Katherine Buso (*)
Os gestores de fundos estão aumentando significativamente suas alocações em ETFs (fundos negociados em bolsa) vinculados ao preço do bitcoin, conforme demonstram os relatórios trimestrais 13-F submetidos à Securities and Exchange Commission (SEC) dos Estados Unidos. Esse crescimento reflete um movimento de aceitação crescente das criptomoedas por parte de grandes investidores institucionais, que buscam maneiras seguras e regulamentadas de se expor a esse mercado dinâmico e volátil.
Esse aumento na demanda por ETFs de bitcoin ocorre em meio a uma forte valorização do ativo digital. No quarto trimestre de 2024, o bitcoin registrou uma alta de aproximadamente 47%, atraindo a atenção de gestores de patrimônio, fundos de hedge e até mesmo fundos de pensão. Essa valorização significativa tem incentivado mais investidores institucionais a diversificarem seus portfólios com criptomoedas, utilizando ETFs como um veículo eficiente para essa exposição.
A Expansão dos Investimentos em ETFs de Bitcoin
Entre os principais investidores institucionais que aumentaram suas alocações em ETFs de bitcoin está o State of Wisconsin Investment Board, um dos maiores fundos de pensão dos Estados Unidos. No último trimestre de 2024, essa instituição mais do que dobrou sua participação no mercado de ETFs de bitcoin. Ao final de dezembro, o fundo possuía 6 milhões de ações do iShares Bitcoin Trust ETF (IBIT.O), um aumento expressivo em relação ao trimestre anterior.
Esse movimento ressalta uma tendência mais ampla entre os fundos de pensão e outros grandes investidores institucionais, que antes eram mais céticos em relação às criptomoedas, mas agora estão aderindo progressivamente a essa classe de ativos. O iShares Bitcoin Trust ETF foi um dos primeiros fundos a ganhar grande adesão institucional, especialmente após o lançamento dos ETFs de bitcoin em janeiro de 2024.
Outras gestoras de peso também expandiram suas exposições. A Tudor Investment Corp, um renomado fundo de hedge, aumentou significativamente sua posição no iShares Bitcoin Trust, passando de 4,4 milhões para 8 milhões de ações. O valor total dessas participações subiu de US$ 159,9 milhões para impressionantes US$ 426,9 milhões, refletindo a valorização do bitcoin durante o período.
Além disso, fundos soberanos, tradicionalmente mais conservadores, também estão entrando no mercado de ETFs de bitcoin. A Mubadala Investment Co, um fundo soberano de Abu Dhabi, adquiriu 8,2 milhões de ações do iShares Bitcoin Trust, totalizando um investimento de US$ 436,9 milhões. Essa entrada de fundos estatais sinaliza um novo nível de aceitação institucional para as criptomoedas, algo que há poucos anos era considerado improvável.
Outro destaque foi o Hunting Hill Capital, um fundo de hedge que não possuía exposição a ETFs de bitcoin no terceiro trimestre, mas decidiu entrar no mercado com uma participação avaliada em aproximadamente US$ 131 milhões até o final do ano. Esse movimento reforça a crescente confiança dos gestores de fundos na capacidade dos ETFs de bitcoin de oferecer retornos expressivos e diversificação para portfólios institucionais.
O Crescimento da Popularidade dos ETFs de Bitcoin
Os ETFs de bitcoin rapidamente ganharam popularidade desde que começaram a ser negociados no início de 2024. Eles representam uma alternativa mais acessível e regulamentada para investidores institucionais que desejam exposição ao bitcoin sem precisar lidar diretamente com a compra, custódia e segurança dos criptoativos.
Essa acessibilidade tem sido um dos principais atrativos para grandes investidores, que veem os ETFs como uma forma eficiente de capturar parte da volatilidade positiva do bitcoin e, ao mesmo tempo, minimizar riscos operacionais. Para muitos gestores de fundos, os ETFs representam uma solução prática para diversificação, permitindo que suas carteiras se beneficiem da alta valorização das criptomoedas sem os desafios logísticos e regulatórios associados à posse direta dos ativos digitais.
Adam Guren, fundador e diretor de investimentos da Hunting Hill Capital, destacou que sua empresa tem negociado ativamente dentro do universo de ETFs de criptomoedas. No entanto, ele alertou que os relatórios 13-F refletem apenas as posições ao final de cada trimestre, e muitas dessas participações podem mudar rapidamente à medida que os fundos ajustam suas estratégias.
Estratégias de Investimento e Seleção de ETFs
Nem todos os investidores institucionais adotaram uma abordagem uniforme ao investir em ETFs de bitcoin. Algumas gestoras, como a Cresset Asset Management, priorizaram ETFs com taxas de administração mais baixas para otimizar seus retornos líquidos.
Jack Ablin, diretor de investimentos da Cresset Asset Management, mencionou que a empresa também utiliza estratégias avançadas, como os collars, que permitem capturar parte da valorização do bitcoin ao mesmo tempo em que oferecem proteção contra quedas abruptas de preço. Esse tipo de abordagem demonstra como os gestores de fundos estão incorporando derivativos e técnicas sofisticadas para administrar riscos dentro do setor de criptomoedas.
Além disso, consultorias financeiras como Cetera Advisors e NewEdge Advisers ampliaram suas alocações em diversos ETFs de bitcoin, incluindo produtos oferecidos por grandes gestoras como Fidelity, ARK Investments e Invesco. Isso reflete a crescente demanda por produtos regulados no mercado cripto, especialmente entre investidores que buscam alternativas seguras para exposição ao bitcoin.
A Importância dos Relatórios 13-F e a Tendência de Longo Prazo
Os relatórios 13-F são uma das poucas ferramentas disponíveis para analisar como os grandes investidores institucionais estão posicionados ao final de cada trimestre. No entanto, como observado por Adam Guren, esses relatórios não capturam movimentações diárias ou ajustes estratégicos ao longo do tempo.
Apesar disso, os dados revelam uma tendência clara: os investidores institucionais estão cada vez mais confortáveis com a ideia de incluir criptomoedas em seus portfólios. O bitcoin, que antes era visto como um ativo de nicho e de alto risco, está gradualmente se tornando uma peça fundamental em estratégias de investimento diversificadas.
A valorização do bitcoin no último trimestre de 2024, combinada com o aumento da aceitação regulatória e a disponibilidade de produtos financeiros como ETFs, tem sido um forte catalisador para essa mudança de postura no mercado financeiro tradicional.
O Futuro dos ETFs de Bitcoin
A adoção crescente de ETFs de bitcoin por grandes investidores institucionais sugere que esses produtos financeiros estão se consolidando como uma classe de ativos legítima. No entanto, o mercado de criptomoedas ainda apresenta desafios, como sua alta volatilidade e as incertezas regulatórias que podem afetar os investimentos a longo prazo.
A concorrência entre os ETFs de bitcoin também está se intensificando. O iShares Bitcoin Trust, com mais de US$ 55 bilhões em ativos sob gestão, é atualmente o maior ETF do setor, mas outros fundos, como os oferecidos pela Fidelity e ARK Investments, estão rapidamente ganhando espaço. A escolha entre esses produtos depende de diversos fatores, incluindo taxas de administração, liquidez e estratégias de mitigação de riscos.
Conclusão
O crescimento expressivo dos investimentos institucionais em ETFs de bitcoin demonstra uma mudança significativa na percepção do mercado financeiro tradicional sobre as criptomoedas. O bitcoin, antes considerado um ativo especulativo, está se tornando parte de estratégias estruturadas de diversificação e geração de retorno.
No entanto, para os gestores de fundos, a chave para o sucesso será equilibrar a busca por retornos atrativos com uma gestão de riscos eficiente. À medida que mais investidores institucionais aderem aos ETFs de bitcoin, esses produtos tendem a se consolidar como um componente fundamental do cenário financeiro global nos próximos anos.
(*) Especialista em Economia e Assuntos Internacionais, Graduada com mérito acadêmico pela Faculdade de Economia da Universidade Armando Álvares Penteado (FAAP-SP) em 2014. Pós-graduada em Estatística pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-Chile). Consultora Editorial na Ciência Capital. Colunista Internacional na Rádio Alta Potência. Colunista Internacional na Rádio Agro Hoje. CEO de Business Intelligence na BlueBI Solution em São Paulo.
Instagram: @bluebisolution.
WhatsApp: +56 98484-9704
Comentarios