Luiz Henrique de Barros Costa (*)
Katherine Buso (**)
No mundo corporativo, a tomada de decisões estratégicas depende fortemente da interpretação correta de dados e informações. No entanto, um erro lógico recorrente pode comprometer essa análise e levar a decisões equivocadas: o sofisma da composição. Esse erro acontece quando se assume que o todo de uma organização possui as mesmas características das suas partes individuais. A falta de informações específicas nas empresas potencializa esse problema, resultando em falhas estratégicas e operacionais que podem comprometer a competitividade e sustentabilidade do negócio.
O Que é o Sofisma da Composição?
O sofisma da composição é uma falácia lógica que ocorre quando se conclui, erroneamente, que algo que é verdadeiro para as partes também será verdadeiro para o todo.
Essa distorção pode ser especialmente prejudicial no contexto empresarial, onde decisões baseadas em percepções isoladas podem comprometer a eficiência global da organização.
A complexidade de uma empresa exige uma visão sistêmica e integrada para evitar esse tipo de erro.
Como a Falta de Informação Amplifica Esse Problema
Empresas que não possuem uma estrutura eficiente de inteligência de dados correm um risco maior de cometer esse erro.
As informações devem ser de tal forma controladas e alinhadas, para que todos os integrantes de toda organização, possam estar “no mesmo caminho” e no mesmo “ritmo”, inclusive com passos que sejam de mesma velocidade. Do contrário, aqueles que se agradarem muito, podem acabar prejudicando o todo.
Algumas formas comuns em que a falta de informação leva ao sofisma da composição incluem:
1. Desempenho Individual x Desempenho Organizacional
Um gestor pode perceber que um departamento específico tem um alto desempenho e assumir que a empresa, como um todo, está indo bem. No entanto, se outros setores estiverem operando com ineficiência, o resultado global pode ser menos eficiente.
Sem uma visão integrada, essa falha pode passar despercebida, levando a decisões equivocadas sobre investimentos, cortes ou realocações de recursos.
2. Sucesso de um Produto x Crescimento da Empresa
Uma empresa pode ter um produto que está se destacando no mercado e, por isso, os executivos podem concluir que a empresa está em uma trajetória de crescimento sólido.
Essa visão otimista pode mascarar problemas financeiros e operacionais, resultando em uma estratégia mal direcionada.
Sem analisar outros produtos e setores, pode-se ignorar sinais de queda em outras áreas, comprometendo a sustentabilidade do negócio.
3. Satisfação de um Cliente x Satisfação Geral do Mercado
Se um grupo seleto de clientes demonstra grande satisfação com um serviço ou produto, isso não significa necessariamente que o mercado em geral compartilha dessa visão.
Empresas que não analisam dados amplos podem negligenciar problemas maiores que afetam a percepção da marca e a fidelização de clientes.
Como Evitar o Sofisma da Composição na Gestão Empresarial
1. Implementação de Inteligência de Negócios (BI)
A adoção de ferramentas de Business Intelligence (BI) permite que as empresas acessem dados em tempo real e façam análises mais precisas.
Ao integrar informações de diferentes áreas, gestores podem tomar decisões baseadas em uma visão completa da organização.
2. Cultura de Dados e Comunicação Interdepartamental
Fomentar uma cultura organizacional baseada em dados e incentivar a comunicação entre setores reduz a fragmentação da informação. Relatórios e dashboards integrados garantem que as análises sejam feitas de forma holística.
Além disso, criar um fluxo de compartilhamento de informações entre departamentos ajuda a eliminar distorções e ruídos na comunicação empresarial. Os colaboradores - mesmo que em departamentos diferentes - devem ter accesso as informações que permeiam o todo.
Em muitas empresas que crescem rapidamente, é comum que alguns setores se destaquem, enquanto outros ficam para trás. Sem uma visão global, setores mais bem-sucedidos podem criar uma ilusão de progresso, enquanto outros setores acumulam ineficiências.
Esse desequilíbrio pode comprometer o crescimento sustentável da organização, e a oportunidade de que o sucesso vença o todo. Este é o ponto específico de grandes empreendimentos, que acabam - pela antiguidade - acreditando que o todo indo bem, as partem também serão bem sucedidas.
3. Avaliação de Indicadores Estratégicos
Para evitar erros de percepção, as empresas devem utilizar indicadores de desempenho global que considerem todas as variáveis críticas do negócio, e não apenas resultados isolados de setores ou produtos específicos.
É importante ressaltar que esta situação é muito comum nas empresas.
Alguns analistas percebem que um departamento vai bem - e que o mercado responde muito bem por este departamento que está sendo feita a análise - mas esquecem de verificar se a comunicação, e as próprias informações que o mercado pode transmitir a empresa, por isso, os resultados acabam não chegando na mesma proporção.
Isso compromete a figura da própria empresa no mercado, e as pessoas - muitas vezes no próprio centro de decisão, acabam não sabendo como e porquê as coisas não estão tão “ambientadas” e tão satisfatórias no mercado, quanto elas estão percebendo dentro da empresa e internamente esta mesma razão.
Indicadores como EBITDA, taxa de churn, market share e satisfação do cliente devem ser analisados de forma ampla, cruzando informações de diferentes departamentos.
4. Tomada de Decisão Baseada em Evidências
Decisões estratégicas devem ser baseadas em análises quantitativas e qualitativas, considerando múltiplos cenários e fontes de dados para evitar conclusões precipitadas.
Muitos empreendimentos - em geral - não se preocupam com esta fragmentação de dados, e muitas vezes não percebem como a integração destas informações são importantes para entender o todo. Isso compromete a estrutura da própria empresa, sem que haja uma única solução.
Pela experiência, notamos que isso acontece em praticamente todas as empresas sem que os tomadores de decisão estejam cientes deste problema.
Um aspecto importante é que todas as variáveis que a empresa tem, devem ser observadas com Inteligência Artificial e Business Intelligence para análise de tendências do cenário interno e externo, para identificar estatísticas, nuances, e “pontos das curvas” que são importantes para analisar o todo sem sofismas da composição.
Conclusão
O sofisma da composição é um desafio constante para empresas que não possuem acesso a informações integradas e precisas.
A falta de uma visão ampla e estratégica pode levar a decisões erradas que afetam o crescimento e a sustentabilidade dos negócios.
A adoção de inteligência de dados, cultura analítica e processos de decisão baseados em evidências são fundamentais para evitar esse tipo de erro e garantir uma gestão eficiente e bem-informada.
As empresas que compreendem a importância de enxergar o todo, e não apenas as partes, estarão melhor preparadas para enfrentar desafios e manter a competitividade no mercado global.
As evidências e tendências que a própria coletânia de dados, facilita muito a vida, e permite que as conclusões tiradas sejam as mais eficazes e mais pronissoras para o desenvolvimento completo da empresa.
(*) Especialista em Economia e Tecnologia Educacional, Graduado em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) em 1971, com Pós-graduação pela mesma instituição e Mestrado em Tecnologia Educacional pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Professor Associado na FAAP e na Faculdade Nossa Cidade, possui vasta experiência na gestão pública e no setor financeiro. Atuou na Secretaria da Fazenda e do Planejamento de São Paulo como assessor e técnico especializado em políticas fiscais, além de ter sido professor de Política Fiscal do Open Market no Centro de Instrução da Bolsa de Valores de São Paulo.
No Banco de Desenvolvimento do Estado de São Paulo, exerceu funções como coordenador financeiro e assessor da diretoria, focado no financiamento de projetos estratégicos. Também foi coordenador financeiro e assessor na Secretaria do Estado dos Transportes de São Paulo, contribuindo para o planejamento de infraestrutura, e consultor na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento do Estado de São Paulo, desenvolvendo projetos de inovação. Com ampla trajetória em planejamento, finanças e desenvolvimento econômico, atuou em diversas instituições, consolidando sua expertise em economia e gestão pública.
(*) Especialista em Economia e Assuntos Internacionais, Graduada com mérito acadêmico pela Faculdade de Economia da Universidade Armando Álvares Penteado (FAAP-SP) em 2014. Pós-graduada em Estatística pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-Chile). Consultora Editorial na Ciência Capital. Colunista Internacional na Rádio Alta Potência. Colunista Internacional na Rádio Agro Hoje. CEO de Business Intelligence na BlueBI Solution em São Paulo.
Instagram: @bluebisolution.
WhatsApp: +56 98484-9704
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