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Os desafios econômicos e demográficos do Japão na atualidade

Paulo Galvão Júnior (*)

A partir de 1968 o Japão foi a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e perdendo essa posição para a China em 2010. Além disso, em 2023, o Japão foi ultrapassado pela Alemanha, caindo para a quarta posição no ranking das dez maiores economias globais. Essas mudanças no ranking mundial refletem não apenas o crescimento econômico da China e da Alemanha, mas, sobretudo, os desafios enfrentados pelo Japão, com um Produto Interno Bruto (PIB) nominal de US$ 4,2 trilhões em 2023, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).

O milenar Japão enfrenta uma série de desafios econômicos e demográficos na atualidade como o envelhecimento da população, a baixa taxa de natalidade, o aumento dos gastos sociais, a dívida pública elevada, a recessão econômica, as taxas de juros ultrabaixas, os elevados gastos públicos, a desvalorização do iene, o aumento da inflação, e a queda nas exportações dos produtos industrializados.

Envelhecimento da população: O Japão tem a cidade mais populosa do mundo, Tóquio, e tem também a sociedade mais idosa do planeta. Com uma população em rápido envelhecimento isso resulta em uma proporção crescente de idosos em relação à população economicamente ativa (PEA), o que coloca pressão sobre o sistema de previdência social e de saúde, que afeta o potencial de crescimento econômico do país asiático, devido à diminuição da PEA e o crescente contingente de aposentados.

“Em setembro de 2023, o Japão registrou que uma em cada 10 pessoas tinha mais de 80 anos pela primeira vez na História. Os mesmos dados mostraram que 29,1% – quase um terço – dos 125 milhões de japoneses tinham 65 anos ou mais” (BBC NEWS BRASIL (a), 2024), ou seja, 36,4 milhões de pessoas idosas.

Dos atuais 122 milhões de habitantes no Japão, são cerca de 124 mil japoneses com 100 anos ou mais de idade. É impressionante observar que o Japão tem uma população significativa de pessoas centenárias. Essa longevidade pode ser atribuída a vários fatores, incluindo uma dieta saudável, um estilo de vida ativo, avanços na medicina e acesso à saúde de qualidade. E o Japão tem uma cultura milenar que valoriza a saúde e a sabedoria da pessoa idosa.

A população japonesa desfruta de uma expectativa de vida ao nascer elevada, com 84,8 anos, segundo os dados de 2021 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), logo, há um número significativo de pessoas centenárias.

Baixa taxa de natalidade: A baixa taxa de natalidade contribui para o envelhecimento da população japonesa e exacerba o problema da diminuição da força de trabalho disponível. Isso pode levar a uma diminuição adicional no crescimento econômico, pois menos pessoas estarão disponíveis para contribuir com a produção de produtos agrícolas (arroz, verduras, frutas, chá verde, entre outros) e industrializados (carros, motos, celulares, computadores, notebooks, entre outros), além de participar da rica economia do mar japonesa.

É preciso revelar que muitos homens japoneses estão optando “namorar” com bonecas infláveis em suas pequenas e modernas residências. Enquanto, jovens casais japoneses preferem cuidar de animais domésticos como cachorros e gatos, ao invés, de cuidar de bebês.

O aumento dos gastos sociais: O aumento dos gastos sociais no Japão é uma resposta direta aos desafios demográficos enfrentados pelo país, especialmente o envelhecimento da população. Com uma proporção cada vez maior de idosos em relação à PEA, o governo japonês enfrenta pressões crescentes para fornecer serviços sociais, como cuidados de saúde, previdência e assistência social.

Essa crescente demanda por serviços sociais aumenta os gastos do governo, especialmente em um contexto em que a população idosa necessita de cuidados mais intensivos e de maior cobertura previdenciária. Além disso, a Terra do Sol Nascente tem buscado melhorar a qualidade de vida dos idosos, o que também implica em custos adicionais para áreas como infraestrutura, trens, metrôs e ônibus adaptados e programas de lazer e cultura voltados para essa faixa etária.

Dívida pública elevada: O montanhoso Japão possui poucos recursos naturais e tem a maior dívida pública do mundo, o que representa um enorme desafio para o governo japonês, que tem adotado medidas para tentar controlar essa elevada dívida pública. E “A dívida pública japonesa atingiu US$ 9,2 trilhões (cerca de R$ 47,7 trilhões). O valor corresponde a 266% do PIB do país — o percentual mais alto entre as principais economias do mundo” (BBC NEWS BRASIL (b), 2024).

Recessão econômica: Nos dois últimos trimestres, o Japão enfrentou período de recessão econômica, “a inevitável queda no PIB nos dois últimos trimestres de 2023 (-3,3% entre julho e setembro e -0,4% entre outubro e dezembro)” (ISTO É, 2024, p. 58). Esta recessão técnica pode ser atribuída a uma série de fatores, incluindo problemas estruturais na economia e choques externos, além de bolhas especulativas.

Taxas de juros ultrabaixas: O Banco do Japão (BoJ), o banco central japonês fundado em 1882 e localizado em Tóquio, tem implementado política monetária expansionista, com taxas de juros ultrabaixas e compras de ativos financeiros para estimular o crescimento econômico. “(...) o Banco do Japão deixou inalterada sua meta para a taxa de curto prazo em -0,1% e a meta para o rendimento dos títulos de 10 anos em torno de 0%, segundo o controle da curva de rendimento. O banco central tem mantido taxas de juros negativas desde 2016” (UOL, 2024).

Elevados gastos públicos: O governo japonês também adotou política fiscal expansionista, com gastos públicos e redução de impostos para tentar impulsionar a economia. Ao aumentar os gastos públicos, o governo investirá em infraestrutura, educação, saúde e outros setores como a segurança, o que gera empregos. Além disso, ao fornecer subsídios governamentais ou incentivos fiscais, as empresas e os consumidores têm mais dinheiro disponível para consumir, e impulsionar a economia.

Desvalorização do iene: Segundo o economista Neil Newman, “Uma das causas, (...), foi a desvalorização da moeda, o iene, em relação ao dólar americano” (BBC NEWS BRASIL (a), 2024). Uma desvalorização do iene pode ter alguns benefícios em termos de exportações e turismo, também pode trazer desafios, especialmente em relação aos custos de importação e dívida externa.

O aumento da inflação: Quando a inflação aumenta, o poder de compra da moeda diminui, o que pode ter vários impactos na economia. Com o aumento dos preços, os consumidores japoneses podem sentir uma pressão financeira, pois precisam gastar mais dinheiro para comprar os mesmos bens e serviços. Isso pode levar a uma redução no consumo, afetando negativamente o crescimento econômico do país.

O aumento da inflação pode levar a custos de vida mais altos para os cidadãos japoneses, especialmente aqueles em situações de baixa renda. Se a inflação japonesa aumentar mais do que a de outros países, isso pode reduzir a competitividade das exportações japonesas nos mercados internacionais.

Queda nas exportações de produtos industrializados: O desenvolvido Japão é altamente tecnológico, industrializado e dependente do comércio internacional para exportar os produtos industrializados da Honda, Toyota, Yamaha, Toshiba, Sony, Fuji, Hitachi, Canon, Nissan, Subaru, Suzuki e Mitsubishi, entre outras empresas.

O Japão enfrenta diversos desafios externos que têm impactado sua economia de mercado. As tensões comerciais globais, especialmente entre as duas maiores economias mundiais, os Estados Unidos e a China, afetaram significativamente as exportações japonesas, que são uma parte crucial de sua economia. Além disso, a pandemia de COVID-19 teve efeitos negativos em vários setores, incluindo o turismo, a produção industrial e o comércio exterior, levando a quedas nas exportações e interrupções nas cadeias de suprimentos.

Além desses desafios externos, eventos geopolíticos, como a Guerra na Ucrânia e a Guerra de Israel contra o Hamas, têm impactos indiretos na economia japonesa, como instabilidade nos mercados globais e flutuações nos preços das commodities. Enfrentar esses desafios externos requer uma resposta coordenada do governo japonês e adaptação por parte das empresas e da população em geral.

Em resumo, o Japão é a quarta maior economia do planeta e enfrenta uma série de desafios econômicos e demográficos que exigem políticas eficazes de longo prazo para promover o crescimento econômico sustentável e lidar com o envelhecimento da população e as pressões fiscais. E, sobretudo, o Japão poderá perder a 4ª posição global no ano de 2026 para a Índia, segundo as projeções econômicas do FMI.

REFERÊNCIAS

BBC NEWS BRASIL (a). 3 causas da recessão do Japão, que deixou de ser a 3ª economia mundial. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4n3489kr91o. Acesso em: 24 fev. 2024.

BBC NEWS BRASIL (b). Como o país mais endividado do mundo ainda tem crédito internacional. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-64333089. Disponível em: 24 fev. 2024.

PNUD. The Human Development Report 2021/2022. Disponível em: https://hdr.undp.org/system/files/documents/global-report-document/hdr2021-22pdf_1.pdf. Acesso em: 25 fev. 2024.

REVISTA ISTO É. O Japão em declínio. Disponível em: file:///C:/Users/Ykalo/Downloads/ISTOE%CC%81%20(28_02_24)%20(1).pdf. Acesso em: 24 fev. 2024.

UOL. BC do Japão mostra convicção em atingir meta de inflação e mantém juros baixos. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2024/01/23/bc-do-japao-mostra-conviccao-em-atingir-meta-de-inflacao-e-mantem-juros-baixos.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em: 24 fev. 2024.

(*) Economista brasileiro, formado pela UFPB (1998), especialista em Gestão de RH pela UNINTER (2009), professor de Economia no UNIESP, conselheiro efetivo do CORECON-PB, sócio efetivo do Fórum Celso Furtado de Desenvolvimento da Paraíba, autor de 12 e-books de Economia pela Editora UNIESP, autor e co-autor de centenas de artigos de Economia, além de apresentador do Programa Economia em Alta da Rádio Alta Potência. WhatsApp: 55 (83) 98122-7221.a

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